O arquiteto africano Diébédo Francis Kéré, conhecido mundialmente pelo trabalho pautado na visão social da arquitetura e na prática do projeto como instrumento de inclusão e transformação, foi o vencedor do Prêmio Pritzker deste ano. Para debater a premiação, as escolhas do júri e sua implicação para a cultura arquitetônica em geral, o Arquicast convidou Caio Dias e Bruno Sarmento.
A história da premiação pode ser dividida em diferentes períodos, marcados por mudanças, mais ou menos anunciadas, nos critérios levados a cabo pelo júri. Entre sua primeira edição, em 1979, até meados da década de 90, o Pritzker se caracterizou por ser uma premiação voltada a consagração de arquitetos e arquitetas cujo conjunto da obra fosse reconhecido pelo mainstream da crítica arquitetônica mundial.
Porém, na última década, temos observado um redirecionamento para a valorização de profissionais não necessariamente conhecidos ou com extensa produção, mas socialmente comprometidos com seus contextos e inovadores na abordagem que fazem dos problemas urbanos contemporâneos. Para além da criação de objetos arquitetônicos excepcionais, o processo de projeto e a geração de conhecimento a partir dele têm se destacado como características diferenciais dos últimos premiados.
Francis Kéré, nesse sentido, não poderia ser uma escolha mais acertada. Além de uma capacidade de responder de forma eficiente a demandas contemporâneas globais, como escassez de materiais e o impacto das mudanças climáticas no ambiente urbano, Kéré assume uma abordagem projetual que considera as comunidades locais como parte do processo criativo e construtivo, e a cultura material e simbólica de um lugar como ponto de partida de sua elaboração conceitual, orientando escolhas sobre as técnicas construtivas, a materialidade e espacialidade desejada.
Com bases em Burkina Faso e Berlim, Kéré e sua equipe buscam equilibrar o compromisso com o trabalho social com projetos que o ajudem a viabilizar economicamente essa escolha. Atuando incessantemente em obras em seu país de origem, conduzindo workshops e espaços de aprendizagem, interessa à Kéré produzir e compartilhar conhecimento, atuando, em suas palavras, na “intersecção entre a utopia e o pragmatismo”.